quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

No teu poema... um homem novo


No teu poema
Existe um verso em branco e sem medida
Um corpo que respira, um céu aberto
Janela debruçada para a vida
No teu poema
Existe a dor calada lá no fundo
O passo da coragem em casa escura
E aberta uma varanda para o mundo
Existe a noite
O riso e a voz refeita à luz do dia
A festa da Senhora da Agonia e o cansaço
Do corpo que adormece em cama fria
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva, a luta, de quem cai ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte
No teu poema
Existe o grito e o eco da metralha
A dor que sei de cor mas não recito
E os sonos inquietos de quem falha
No teu poema
Existe um cantochão alentejano
A rua e o pregão de uma varina
E um barco assoprado a todo o pano
Existe um rio
O canto em vozes juntas, em vozes certas
Canção de uma só letra e um só destino a embarcar
No cais da nova nau das descobertas
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte
No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do muro
Existe tudo o mais que ainda me escapa
E um verso em branco à espera do futuro

Não resisti a colocar aqui o poema - das coisas mais bonitas e profundas que já li.
Villax

3 comentários:

Actores Fantásticos disse...

Não resististe e fizeste muito bem... eu não o pus da primeira vez porque não quis usurpar o espaço todo com o poema e o vídeo... De facto, José Carlos Ary dos Santos escrevia como ninguém...
Abraço

Francis

Actores Fantásticos disse...

Belíssimo.

hoje, apetece-me destacar os seguintes versos

"Canção de uma só letra e um só destino a embarcar
No cais da nova nau das descobertas"

sandra

Actores Fantásticos disse...

Concordo plenamente Villax.
É das palavras mais bonitas que se pode ouvir, ler e sentir!!!
Obgda!!!
Beijocas!!!

Joana Lima